Obá Ibarú e o quiabo

Posted by on 6 de junho de 2010


Diziam os antigos que Ibarú foi um obá (rei) muito destemido e que adorava fazer emboscadas e conquistar novos reinos. Todos temiam a sua presença, pois o mesmo possuía um temperamento muito instável e agressivo, e qualquer coisa o deixava furioso. Diziam até que era louco e que não merecia estar usando a coroa de rei. Em uma de suas batalhas conquistou a cidade de Sobo, no reino do antigo Dahomé. Ao chegar vitorioso seu povo gritou alegremente:

Ibarú de sobo ada,se ké èré,se ké èré de Sobo ada! Barú faz emboscada em Sobô com seu facão. Faz gritar e é vitorioso!
Ibarú adorava mesmo era um bom amalá quente e regado com epó pupa (azeite de dendê). Porém, toda vez que lhe era servido esse prato ficava com um cansaço que lhe deixava com muito sono. Seus inimigos logo descobriram sua fraqueza e sempre que queriam levar vantagem sobre o seu reino mandavam que alguém lhe oferecesse um amalá bem bonito e com muito ilá (quiabo). Dessa forma conseguiam sair vitoriosos nas negociações, uma vez que o rei quando não estava dormindo também não conseguia raciocinar corretamente.
Um dos seus súditos mais fiéis e que sempre acompanhava Ibarú era Inã (o fogo). Preocupado com as freqüentes perdas sofridas por seu senhor e amigo resolveu procurar um oluwo (adivinho) para saber o que fazer, pois temia que o rei fosse a ruína. Chegando a casa do oluwo o mesmo informou que o motivo de tantas perdas era que Ibarú havia quebrado um de seus interditos (èèwò). Ele deveria deixar de comer ilá (quiabo), pois do contrário só sofreria perdas consecutivas.
Inã foi correndo contar a seu senhor o que o oluwo havia lhe dito. Após ouvir seu inseparável amigo atentamente Ibarú logo protestou:
-Mas Inã como posso deixar de comer o meu prato predileto, amalá bom é com ilá!
Inã que já conhecia o seu senhor sabia que ele iria contestar a ordem do oluwo, e já tinha se informado qual a melhor forma de substituir o ilá do seu amalá.
Pediu que Oyá, a maior quituteira do palácio, preparasse dois amalás diferentes substituindo o ilá pelas folhas de gburé e de óyó. Assim Oyá fez. Refogou as folhas com bastante alobaça (cebola), camarão e epo pupa. Despejou sobre a gamela forrada com ebá (pirão de farinha de mandioca) e foi correndo servir ao rei, que só gostava de comida bem quente.

Quando viu Oyá chegando com duas gamelas Ibaru ficou curioso em saber qual era o prato que Oyá havia lhe trazido. No começo achou estranho, pois nunca havia comido tal iguaria. Porém logo que provou o primeiro amalá, feito de gburé , lambeu os beiços e adorou a novidade. Como era muito guloso logo foi experimentar o segundo amalá, com as folhas de oyó. Comeu tudo. Após se fartar com as iguarias se sentiu cheio de energia, nem sinal do cansaço de outrora. Sua mente estava a mil. Dizem que desde esse dia Ibarú nunca mais comeu ilá e seu reino voltou a prosperar como nunca. Segundo alguns, o rei deixou até de ser chamado de louco, pois nunca mais perdeu a sua lucidez. Seu reinado durou longos anos, até que, cansado do trono, Ibarú abriu um grande buraco na terra e nunca mais foi visto por ninguém.

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