Folhas Sagradas, há espaço para inovações? Parte I

Posted by on 17 de outubro de 2010

Realmente o assunto é bem controverso e gera alguns questionamentos.


Urera baccifera- Ewé ájòfà/ urtiga

É fato que de

sde os primórdios da humanidade o homem utiliza as plantas com fins não apenas alimentares, mas também

curativos e religiosos. Em cada local

essas plantas receberam den

ominações diferentes, o que muitas vezes gerava dificuldades na sua identificação e utilização por outros grupos. Com o intuito de facilitar esse processo fo

ram criados diversos sistemas de classificação botânica. Por exemplo: Aristóteles, Teofrastus e Plinius dividiram o reino vegetal em três grandes grupos: ervas, arbustos e árvores. Este sistema foi aceito amplamente durante a maior parte da Idade Média.

Paracelso, médico suíço e grande alquimista, difundiu a “

Teoria dos Sinais” ou “Doutrina das Assinaturas”. Segundo Paracelso, tudo o que é criado pela natureza reproduz a imagem da virtude a que lhe é atribuída trazendo consigo traços visíveis ou invisíveis de similitude. É interessante ressaltar que essa teoria baseava-se em um antigo provérbio: “similia similibus curantur“, ou seja, “o semelhante cura o semelhante”. Dentro dessa perspectiva um fruto com formato semelhante a um fígado traria consigo a “assinatura” de sua utilidade para problemas hepáticos, assim como outro com a aparência de um coração seria indicado para doenças cardíacas. Por exemplo, as nozes, cuja aparência lembraria um cérebro, seriam empregadas em doenças do sistema nervoso. Embora esse sistema de classificação não seja mais amplamente aceito, ainda podemos observar sua utilização por partes de alguns naturalistas, até porque Paracelso é considerado o Pai da Medicina Naturalista.

Atualmente, o sistema oficial de classificação botânica é o criado pelo também naturalista sueco Carolus Linnaeus. Cada vegetal é identificado de forma binominal, onde o primeiro nome indica uma característica geral (gênero) enquanto o segundo identifica o seu aspecto específico (espécie). Desta forma podemos citar: Citrus aurantium (laranja), Citrus limonia (limão) e Citrus nobilis (tangerina).

Sabemos que cada orixá, vodun, inkicie, guia ou encantado pode estar associado a um conjunto de determinadas folhas que poderão ser utilizadas no seu culto. Essas folhas, entretanto, não são escolhidas ao acaso, existem critérios ligados à crença religiosa de cada um desses grupos que compõem as religiões de matriz africana.

O sistema de classificação Jeje-Nago se baseia em diversos aspectos, como seu caráter elemental (Terra-Ewé Ilè, Fogo-Ewé Inon, Água-Ewé Omí e Ar-Ewé Aféfé), sua natureza (Macho-Ewé Okunrin/Fêmea-Ewé Obirin) e seu porte (Igi- árvores; Kekere- plantas rasteiras ou arbustivos; Afomã- trepadeiras e parasitas). Dessa forma, quando dizemos que Esú aprecia ewé ájòfà (urtiga/ Urera baccifera) estamos nos rementendo à ligação que este orisá tem com o elemento fogo, uma vez que essa folha tem a capacidade de provocar queimaduras na pele. Da mesma forma ewé òdúndún () é usada para Osalá, pois é uma folha úmida (elemento água), quando passada na pele queimada refresca.

Kalanchoe brasiliensis- ewé òdúndún/ folha da costa (saião)

A nomenclatura dessas plantas pelos povos de origem ioruba também se baseia nesse critério de classificação. Existem nomes que podem ser utilizados de forma genérica ou específica, de acordo com as características apresentadas: Há folhas que qualificam alguma ação (Akoko = a que dá saúde e inteligência ; Banjoko = vigia o caminho ); que trazem o nome de animais, invocando assim as suas qualidades (Ejá omodé – peixe criança; Ewé akunkó – crista de galo); que nos remetem aos sentidos (Ewé kukunduku = folha doce ate morrer; Ewé nilá = perfume bom) e ainda que se referem a algo que procuramos obter (Amújé = estanca sangue , são folhas que tem ação anti coagulante; Dágunró = são todas as folhas que tem espinhos e podem ser utilizadas para vencer os inimigos).

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