TÈTÈ- Folha de caruru (PARTE II)

Posted by on 15 de novembro de 2010

Segundo alguns estudiosos, o caruru era um prato indígena, consistindo de um refogado da folha acompanhado de peixe ou carne. Com o processo de trocas culturais o prato teria sido levado para a África e depois retornado ao Brasil, sendo a folha de bredo substituída pelo quiabo (iláHibiscus esculentus).

Nas casas de Candomblé o caruru também apresenta uma posição de destaque, sendo conhecida como ewé tètè. Junto com a folha òdúndún (Kalanchoe brasiliensis) é uma folha fria ou ewé eró (folha que acalma), considerada uma das principais folhas de Osalá. Por pertencer ao orixá da criação é utilizada por todos os demais orixás, o que a torna fundamental no preparo do àgbo orisá. Dois orixás que também costumam ser associados a essa folha são Ogún e Odé.

Na santeria cubana é uma das folhas chefe de Obatalá, recebendo o nome de Kalalu. Existe uma história que relata a utilização de kalalu pelos orixás:

Orixá Oba- Ile Asé Omí

“ Oba foi a primeira esposa de Xangô, no entanto o rei gostava muito de Oxum por causa de sua beleza, sexualidade e habilidades culinárias. Oya era muito amiga de Oba, mas sabia do interesse da mesma em agradar seu rei. Oya também queria Xangô. Ela elaborou um plano de traição, convencendo Oxum a mentir e dizer para Oba que o segredo para preparar amalá, prato favorito de Xangô, era usar folha de kalalu (teté). No lugar da carne ela deveria substituí-la por sua orelha esquerda, no lugar do óleo de dendê ela substituiria pelo seu próprio sangue. Dessa forma, Xangô sempre iria ouvi-la. Ela e Xangô estariam sempre ligados. Assim Oba imediatamente foi para casa e cortou a orelha preparando o prato. Quando ela deu a seu amado, Xangô comeu e cuspiu. Ele perguntou o que era aquilo e quando descobriu o que Oba fizera a impediu de retornar ao seu palácio. Obá se exilou em uma caverna para viver uma vida solitária, longe de todos. Oya tornou-se então esposa de Xango.”

Orixá Osún- Ile Asé Omí (Cachoeiras de Macacu)

Orixá Osún- Ile Asé Omí (Cachoeiras de Macacu)

Uma cantiga cubana de xangô que relembra esse mito é a seguinte:

Amala , Kalalu mala mala

Amala , Kalalu mala mala

Obinsa fun Shango mala, mala Kalalu

Inhame cozido com Kalalu, ensopado de inhame

As mulheres servem a Xangô amalá feito com Kalalu

É interessante notar a semelhança desse cântico com outro recitado em algumas casas de Candomblé, e com a mesma finalidade: Mala mala, mala do bi, mala do bi. Mala mala, mala do o, mala do bi.

No Brasil, tètè é saudada durante o ritual de sasányìn com os seguintes korín ewé (com algumas variações):

Tètè kó mó tèé o

Tani ju Onílé

Tètè não pode perder sua estima

Quem pode mais do que o Dono da terra?

 

Tètè kó mó tèé o

Awa ni ‘jo n’ilé

Tètè nunca deixará de ser a primeira.

Nós temos o conhecimento da terra

 

Tètè kó mó tèé o

Ta ni só Onilé,

Tètè kó mó tèé o

Ta ni só Onilé,

Eron kó mara o

Tètè não pode perder sua estima

Quem conversa com o senhor da terra

Tètè não pode perder sua estima

Carne que constrói nosso corpo

 

Tètè ki ìtè L’àwùjo èfò

Tètè não perde seu lugar entre as plantas

Xangô e suas esposas (Obá, Oxum e Oyá)

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