Segundo alguns estudiosos, o caruru era um prato indígena, consistindo de um refogado da folha acompanhado de peixe ou carne. Com o processo de trocas culturais o prato teria sido levado para a África e depois retornado ao Brasil, sendo a folha de bredo substituída pelo quiabo (ilá– Hibiscus esculentus).
Nas casas de Candomblé o caruru também apresenta uma posição de destaque, sendo conhecida como ewé tètè. Junto com a folha òdúndún (Kalanchoe brasiliensis) é uma folha fria ou ewé eró (folha que acalma), considerada uma das principais folhas de Osalá. Por pertencer ao orixá da criação é utilizada por todos os demais orixás, o que a torna fundamental no preparo do àgbo orisá. Dois orixás que também costumam ser associados a essa folha são Ogún e Odé.
Na santeria cubana é uma das folhas chefe de Obatalá, recebendo o nome de Kalalu. Existe uma história que relata a utilização de kalalu pelos orixás:
“ Oba foi a primeira esposa de Xangô, no entanto o rei gostava muito de Oxum por causa de sua beleza, sexualidade e habilidades culinárias. Oya era muito amiga de Oba, mas sabia do interesse da mesma em agradar seu rei. Oya também queria Xangô. Ela elaborou um plano de traição, convencendo Oxum a mentir e dizer para Oba que o segredo para preparar amalá, prato favorito de Xangô, era usar folha de kalalu (teté). No lugar da carne ela deveria substituí-la por sua orelha esquerda, no lugar do óleo de dendê ela substituiria pelo seu próprio sangue. Dessa forma, Xangô sempre iria ouvi-la. Ela e Xangô estariam sempre ligados. Assim Oba imediatamente foi para casa e cortou a orelha preparando o prato. Quando ela deu a seu amado, Xangô comeu e cuspiu. Ele perguntou o que era aquilo e quando descobriu o que Oba fizera a impediu de retornar ao seu palácio. Obá se exilou em uma caverna para viver uma vida solitária, longe de todos. Oya tornou-se então esposa de Xango.”
Uma cantiga cubana de xangô que relembra esse mito é a seguinte:
Amala , Kalalu mala mala
Amala , Kalalu mala mala
Obinsa fun Shango mala, mala Kalalu
Inhame cozido com Kalalu, ensopado de inhame
As mulheres servem a Xangô amalá feito com Kalalu
É interessante notar a semelhança desse cântico com outro recitado em algumas casas de Candomblé, e com a mesma finalidade: Mala mala, mala do bi, mala do bi. Mala mala, mala do o, mala do bi.
No Brasil, tètè é saudada durante o ritual de sasányìn com os seguintes korín ewé (com algumas variações):
Tètè kó mó tèé o
Tani ju Onílé
Tètè não pode perder sua estima
Quem pode mais do que o Dono da terra?
Tètè kó mó tèé o
Awa ni ‘jo n’ilé
Tètè nunca deixará de ser a primeira.
Nós temos o conhecimento da terra
Tètè kó mó tèé o
Ta ni só Onilé,
Tètè kó mó tèé o
Ta ni só Onilé,
Eron kó mara o
Tètè não pode perder sua estima
Quem conversa com o senhor da terra
Tètè não pode perder sua estima
Carne que constrói nosso corpo
Tètè ki ìtè L’àwùjo èfò
Tètè não perde seu lugar entre as plantas