Postei esse texto em uma comunidade em que sou moderador e achei legal colocá-lo aqui. “Gente é sempre bom ressaltar que o nome da Comunidade é : Folhas Sagradas. Ora, embora a maioria dos participantes me pareça ser adepto de religiões de matriz africana (Candomblé, Umbanda, Catimbó e outras vertentes), a sacralidade das folhas não é exclusividade desse grupo religioso.
Grupos indígenas são grandes conhecedores de ervas e seus segredos, alguém já ouviu falar do caxiri, o mocororó, a ayahuasca, a famosa jurema? São bebidas poderosas e que guardam em si a força desse povo. Se tiverem a oportunidade experimentem.. E isso não passa exatamente pelo Candomblé.. A folha utilizada, entretanto, continua sendo sagrada.
Povos europeus também utilizavam diversas folhas para sortilégios e encantamentos, quem já conversou com um adepto da bruxaria moderna (wicka) sabe o que estou falando. As folhas são utilizadas no culto a Deusa (e ao Deus), simbolizando o elemento terra, por exemplo. Cada folha também possui cunho sagrado.. Tem o seu simbolismo e a sua força.
Quando cruzamos as informações, observamos que muitas acabam convergindo, ou seja, a utilização para determinada erva acaba se correspondendo nas diferentes vertentes religiosas (chamamos isso egrégora). Porém isso não é regra.. Mesmo dentro do Candomblé uma folha pode ser amplamente utilizada em uma Nação (Ketu, Angola, etc) e ser kizila para outra. Eu acredito que o que deve ser entendido é que a utilização de cada folha vai depender principalmente de como as nossas energias estão sendo trabalhadas. Por exemplo, por que será que não é costume oferecer Obí (Cola acuminata) para o orixá Xango, enquanto o mesmo não necessariamente acontecerá com o vodun Hevioso.. Quando entramos no campo das restrições e particularidades que cada orí impõem a cada um de nós então.. Dá até nó na cuca.
Todo conhecimento é importante, essa comunidade nos ensina isso a todo tempo. Toda folha também carrega a sua força, isso aprendi com meu saudoso Pai. Muitas vezes me deparei com folhas que achava que fossem mero capim e que depois pude perceber que podiam salvar uma vida. O Candomblé se formou a partir do fragmento do conhecimento de vários povos africanos, que com o passar do tempo se aglutinou e se consolidou. O povo de Efon contribuiu, assim como o de Savalu, o de Angola e outros.. Isso explica o porquê de se dizer que Candomblé não é receita de bolo..
Vamos respeitar a opinião e a dúvida de cada um dos membros da comunidade. Acho que o objetivo da comunidade não é discutir quem sabe mais ou menos, muito menos ficar divagando sobre fundamentos (awo se aprende na casa de culto). Estamos aqui para trocar idéias, informações, e a partir daí, cada um segue com o que aprendeu ao longo da sua jornada, que é única.
Embora sejamos de diferentes vertentes litúrgicas gosto muito de cantar essa cantiga, pois tem o significado de nos lembrar como é importante estarmos sempre unidos: Fará imóra Olúwo F’ará imóra Araketu ‘Wúre Fará imóra! Vamos nos abraçar, porque somos todos irmãos! Axé!
Por fim, o Senhor que caminha pelas matas, com uma só perna, nos ensina através de seus ofós que a palavra tem
força. Vamos ter cuidado com a palavra que sai de nossa boca, ela sempre chegará em alguém..” Motumbá irmãos!
TEXTO ESCRITO POR JONATAS GUNFAREMIM
Parabéns!
Adorei o texto.
Ase O!
Sim, concordo plenamente!
Sou adepto do uso da ayahuasca, que me trouxe uma nova e mais profunda visão do Candomblé.
Nova, mais profunda e também mais universalista, diga-se de passagem, e é exatamente isso que vejo nesse texto, para a minha mais completa satisfação.
Infelizmente algumas pessoas têm uma visão bem mesquinha do Candomblé, e ainda não perceberam a real grandeza de um Orixá. Julgam apenas pelo que vêem no barracão ou no roncó. Mas é mais, muito, mas muito mais mesmo.
Eu, mesmo com o auxílio do chá, julgo ter tido ainda apenas um vislumbre do que é, digamos, uma “Força de Deus”!
Salve todos os Orixás!