IrôkoIssó! Eró! IrôkoKissilé!
Iroko dos caminhos. Caminhos que vem e vão, e o mundo rodando à sua vontade. Na floresta, ao lado de Ossain, declama com seus galhos e folhas os retorcidos mistérios do verde universo. Orixá se transmuta em árvore, árvore se torna Orixá e o povo virando no Santo! O Grande Guardião e a vida em louvação.
Orixá Árvore das trilhas em cruzamento e Iroko, enfim, Senhorio do Otim. Árvore também vivenda dos mortos, com Icú revelando-se indomável aos seus pés durante a noite. Árvore-Cemitério, dos ajejês, dos abicus, lança sua sombra cobrindo os términos dos ciclos, em junção com os segredos de Nanã e Obaluayê.
Generoso, grande amor de Yewá, Iroko brilha e vibra possibilidades de renovação. Senhor do que recomeça, do que o vento leva e traz no toque do atabaque da transformação, pois ele ouve o tempo e o tempo segue, ciclo eterno de mudança.
O branco, a sua cor, união de todas as cores do arco-íris da sua ligação com Oxumarê, o mesmo branco do sangue dos ibis. Ele, a brasileira Gameleira, em comunhão com Obatalá. Assim, Árvore-Orixá da fartura e da fertilidade, feliz, dá frutos: Árvore Maior, Iroko é e será para todo o sempre a abundância na plenitude dos dois mundos. De sua copa frondosa, resplandece o equilíbrio sobre tudo, Iroko regenerando a vida infinitamente, enfim, fazendo triunfar a união na paz de Oxalufã, cujo opaxorô é feito de um de seus galhos.
Enfim, rigoroso, caem as folhas como lágrimas de desespero, implacável contra aqueles que cultivam o erro. O Orixá que brada a guerra quando não é tempo de perdoar. Todavia, Iroko também sabe curar, sempre disposto a ouvir.
E como gosta de ouvir! Lamentos, pedidos, choros, rezas, agruras, dores, tristezas. Paciente, escuta-os. Reto, cobra as alegrias e as farturas atendidas. Mulheres e homens, nas raízes e tronco sob as folhas, batem cabeça pelas bênçãos do seu Axé, por perdão pelos erros cometidos.
Os antigos ainda contam, por fim, que Iroko soprou através do vento um chamado a uma jovem que dançou e rodopiou, indo girando ao seu encontro para tornar-se Filha…
… E hoje, em sua homenagem, Ela, a Unidos de Padre Miguel, pede licença!
Com o Estandarte resplandecendo o vermelho do nosso sangue fervendo Carnaval e o mesmo branco do ojá de Iroko, pedimos licença para celebrar a felicidade da devoção e oferecemos o banquete da alegria de viver sob a sombra da Árvore Sagrada.
A Unidos de Padre Miguel, emocionada e aguerrida na gira da Vila Vintém a passar pela Sapucaí, canta os mitos e estórias sagrados, festejando as raízes, o tronco, os galhos, as folhas e o Axé da Grande Árvore, ajoelhando-se respeitosa aos pés de Iroko pelas graças abençoadas do Orixá!
Aqui e agora, tributo ao Senhor da Árvore, é Tempo de Xirê!
“No tronco da Gameleira,
Meu Iroko eu vou louvar!”.
GLOSSÁRIO:
“IrokoKisselé! Eró Iroko Issó, Eró!” & “Irôko Issó! Eró! Irôko Kissilé!”: Saudações a Iroko: “Salve Grande Iroko! O Senhor de todas as Árvores!”
Eró: calma!
Igi Olórum: árvore do Senhor dos Céus
Osa Igi: Orixá(s) da Árvore
Oluôs: advinhos
Otim: cachaça
Iamis (ou Yamis): mulheres-pássaros e feiticeiras
Abicus: espíritos de crianças marcadas por reiteradas mortes
Ikú: morte
Dança do Avania: viagem de Iroko pelo Aiyê, na qual são narradas todas as suas aventuras. Representação ritualística da viagem.
Ajejê (ou axexê): ritual fúnebre
Ojá: tira de pano branco que é amarrada ao redor do tronco do pé-de-Iroko, em ritual ao Orixá.
Morim: pano branco de algodão
Aiyê: terra
Orun: céu
Opaxorô: “cajado” de Oxalá
Ibis: tipo de caracol, animal de Oxalá.
“No tronco da gameleira, Meu Iroko eu vou louvar” trecho do Ponto “Iroko”,na voz e ritmo de Juliana D Passos e a Macumbaria (letras.mus.br/juliana-dpassos-e-a-macumbaria/iroko/)
BIBLIOGRAFIA PRINCIPAL
Martins, Cleo; Marinho, Roberval. Iroco – “O Orixá da Árvore e a Árvore Orixá”. Coleção Orixás. Rio de Janeiro: Pallas, 2010.
Bastide, Roger. As Religiões Africanas no Brasil. 2 vol. São Paulo: Pioneira, 1985.
Goldman, Márcio. Possessão e a construção ritual da pessoa no Candomblé. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Museu Nacional, URFJ, 1984.
Prandi, Reginaldo. Mitologia dos Orixás. Companhia das Letras: São Paulo, 2001.
Verger, Pierre Fatumbi. Orixás – Deuses Iorubás na África e no Novo Mundo. Salvador: Corrupio, 2002.
Verger, Pierre Fatumbi. Notas sobre o culto aos Orixás e Voduns. São Paulo: EDUSP, 2000.
Presidente: Renato Maroto
Vice-Presidente: Willie Baracho
Carnavalesco :Edson Pereira
Direção de Carnaval: Cícero Costa
Concepção de Enredo e Pesquisa: Edson Pereira e Comissão Artística
Texto e Pesquisa: Edson Pereira, Victor Marques e Clark Mangabeira
Comissão Artística: Clark Mangabeira, Flávio Magalhães, Lucas Abelhas,
Sandro Gomes e Victor Marques
Samba enredo 2021 da Escola de Samba Unidos de Padre Miguel
TEXTO RETIRADO DO SITE: https://www.unidosdepadremiguel.com.br/carnaval-2021