Folhas e Iya Mí Eleyé

Posted by on 2 de novembro de 2010

Atioró- Tockus fasciatus (sin. Buceros fasciatus)

Um itan, revelado por um dos Odú-Ifá demonstra bem a natureza de Iya Mi e sua relação com as árvores, nos lembrando que ela não deve ser encarada como uma figura maligna. Em três árvores que elas pousaram trouxeram infortúnios, entretanto em outras três trouxeram coisas boas. Apenas uma dessas sete árvores traz consigo infortúnio e alegria juntos. Esse itan deixa bem claro que Iya Mi apresenta ambos os lados, a visualização vai depender do que cada um de nós traz em seu coração. Os membros das Sociedades Gueledé, Ogboni e da Irmandade da Boa Morte sabiam (sabem) muito bem disso.

Quando falamos de folhas utilizadas para Iya Mi, não podemos esquecer que, na verdade, toda Iyagbá (orisá obirin) é considerada uma Iya Mi, representação coletiva do poder feminino, e por isso não devemos nos assustar quando determinada folha de Osun é utilizada no culto a Iya Mi, por exemplo. Verger em seu livro Ewé, cita uma infinidade de ervas utilizadas para incitar e apaziguar Iyá Mi (Minha Mãe), não gosto de utilizar o termo Ajé (bruxa), pois tem um tom pejorativo.

Acho muito importante ressaltar a relação entre Iyá Mi e Osanyìn. Elas são chamadas Eleyé (Portadoras do Pássaro), pois se transformam em aves (Agbibgó, Elúlú, Atioro, Osoronga). Ora, o grande símbolo do poder de Osanyìn é Eyé, seu pássaro, presente em todas as suas ferramentas. Não é à toa que sem folha não se faz filho de santo. O poder de Iyá Mi está presente em cada uma das folhas que utilizamos, mesmo aquelas que não são diretamente ligadas a elas. Iyá Mi é o grande útero que povoa a Terra, toda mulher é considerada uma Iyá Mi em potencial. Imaginem se todas as mulheres se recusassem a ter filhos, a humanidade acabaria e os orixás não teriam mais quem os cultuassem.

Atioró - Calau preto, Bico de Serra preto. Encontrada desde a Nigéria, Angola, Zaire até Uganda.

4 Responses to Folhas e Iya Mí Eleyé

  1. Felix Marinho

    “Não gosto de utilizar o termo Ajé (bruxa), pois tem um tom pejorativo.”
    Creio que já seja o momento, de pararmos de associar a palavra”Ajé” com a figura da bruxa europeia. Em verdade uma vítima da misóginia, da intolerância, do fanatismo e da crueldade humana.

    Pois bem, como magnificamente nos apresenta Pierre Verger (em sua última grande obra), assim como todas as outras entidades espirituais de origem yorubá, Iyami também possui suas folhas próprias.
    Dentre as quais, aqui no Brasil conhecemos: guiné, folha de cana, folha de trombeteira vermelha, embaúba etc…

    • Gunfaremim

      Olá Félix, obrigado por seu comentário. Realmente, vivemos em uma sociedade extremamente misógina, intolerante e preconceituosa, onde a mulher ocupa sempre um papel menor ou desprestigiado. O termo ajé, apresenta como uma das traduções possíveis o significado de bruxa, feiticeira (Vocabulário Yorubá- Eduardo Napoleão, 2010). Dentro da sociedade ocidental, as bruxas assumiram uma conotação extremamente negativa, embora, na maior parte dos casos, eram mulheres dotadas de um extremo conhecimento ancestral, que empregavam na cura de diversos males. Em um mundo cristão e machista esse “poder” não deveria ser estimulado, e assim muitas foram banidas e queimadas em fogueiras. Uma forma de colocá-las no esquecimento e aniquilar a sua importância. Quando observamos as culturas tradicionais o termo bruxa ou feiticeira assume um outro peso, uma vez que representam mulheres dotadas de muito conhecimento e poder. Por isso merecem ser respeitadas. Por outro lado, não devemos nos esquecer que, embora a sociedade Yorubá esteja baseada em tradições muito antigas, também está impregnada de muito machismo. O termo ajé também é utilizado com um certo temor (e respeito) por eles, existindo termos mais “respeitosos” para designar o poder ancestral feminino. Outra coisa, escrevo também dentro do contexto do Candomblé, onde a palavra ajé não é exatamente utilizada de forma carinhosa. Agradeço imensamente por sua contribuição e participação.

  2. gunfaremim

    Oi irmã, eu é que agradeço.. Procuro aprender a cada dia com a religião que me abraçou e me ensinou a ver a vida com outros olhos. Quando nós começamos a conhecê-la realmente fica impossível desrespeitá-la. Um grande beijo e sua benção minha velha. Motumbá!

  3. Marilu Campelo

    Irmão, obrigado por compartilhar sua sabedoria. Bjs.
    Motumbá.

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