(Jenipapo) Lenda do índio Xnhangá

Posted by on 4 de abril de 2011

Arte indígena Kusiwa (Aramari, a grande jibóia)

Essa lenda conta como os índios descobriram o nosso querido jenipapo, é muito bonita, e nos ensina como podemos viver melhor com os nossos irmãos e com tudo que Olorum nos oferece. Realizei algumas adaptações e a reescrevi, de forma a torná-la ainda mais rica:

Conta uma lenda que em uma aldeia, abrigada no interior da floresta, morava um guerreiro muito valente e destemido, famoso por sua astúcia e inteligência, que o levavam a vencer diversas batalhas e conquistar muitas aldeias. Seu nome era Xhangá, e por sua causa sua aldeia era muito prospera, uma vez que possuíam terras cercadas de rios e com muita caça. Isso atraia a atenção de diversas outras tribos do entorno, que tentavam se apossar dos recursos que dispunha a tribo de Xnhangá, uma delas era a dos Prinhan.

A tribo de Xnhangá ficou sabendo que os Prinhan iriam tentar invadir as suas terras e começou a se preparar para a guerra, pintando seus corpos com cores intensas, como vermelho, verde e azul, de forma a intimidar os adversários. Xnhangá era um formidável guerreiro, porém também possuía um extremo censo de justiça. Sabia que a guerra gerava muita dor, muitas perdas de vidas, por isso rezou a Tupã, o Grande Deus, nas margens da lagoa.

Tupã atendeu sua oração e conversou com Xnhangá, na beira da lagoa. Em um momento da conversa Tupã foi à direção de uma árvore e retirou um fruto verde, que entregou nas mãos de Xnhangá:

-Xnhangá, você é sábio e possui a astúcia de Acauã (ave grande que ataca serpentes), amasse essa fruta e pinte o seu corpo com ela. Vá à frente do seu povo, pois ela os protegerá da guerra. Diga aos Xnhangá que a Natureza, que eu criei, é para todos! A riqueza da terra deve ser dividida. Jururá Açú mandará chuvas para fertilizar a terra e Sumá (deusa da agricultura) garantirá colheita farta para todos. Cada vez que minha esposa, Jaci (a Lua) brilhar no Céu e uma fêmea estiver dando a luz, os homens terão sempre carne farta para sua alimentação. Mas nunca esqueçam que Caapora (protetor dos animais) e Curupira (protetor das matas) devem ser sempre reverenciados. Os rios e lagoas de Iyara sempre serão abundantes em peixes. Icatú (deus da beleza) e Rudá (deus do amor) farão com que os homens se apaixonem e que a aldeia cresça.

Xnhangá ouviu atentamente o conselho de Tupã. No dia da grande batalha pintou seu corpo com o sumo da fruta dada por Tupã e transmitiu a todos o que o Grande Deus havia lhe dito. Todos acataram o ensinamento, e a guerra entre as tribos teve fim, a morte e a tristeza se afastara do povo de Xnhangá. Todos dividiam os recursos que lhes fora ofertado pela Natureza. A tranqüilidade foi tanta que a filha do cacique da tribo de Xnhangá se casou com o filho do cacique da tribo Prinhan, fazendo assim com que as duas tribos se tornassem uma. Descobriram depois, que a fruta ofertada por Tupã servia para curar doenças e para a alimentação. Resolveram então chamá-la jenipapo, “fruta que faz tinta preta”.

A Arte Kusiwa é uma técnica de pintura e arte gráfica própria da população indígena Wajãpi, do Amapá

 

6 Responses to (Jenipapo) Lenda do índio Xnhangá

  1. Sydney Feitosa

    Achei muito interessante esta lenda mas gostaria de saber á respeito de que tribos utilizam o Jenipapo, por causa que tenho aqui em São Paulo na empresa que trabalho (Furnas Centrais Elétricas ) alguns pés de Jenipapo e estiveram aqui alguns índios pedindo para retirar um pouco da fruta e folhas mas não os ví mais, como poderia encontrar esta tribo?, segundo eles disseram o único lugar que encontram Jenipapo é aqui, Aguardo sua resposta ou sugestão, Obrigado !

    • Gunfaremim

      Olá Sydney, não entendo muito de grupos indígenas, mas me parece que os grupos Jenipapo- Kanindé, que descendem dos Payaku, habitaram toda a faixa litorânea dos estados do Ceará e do Rio Grande do Norte. Embora esse grupo tenha no nome a palavra jenipapo, não sei se o mesmo se refere a árvore da lenda. Isso porque a palavra é de origem tupi, que é na verdade uma etnia distinta.. Me parece ainda que existem registros de alguns povos de ramo tupi que habitaram São Paulo. Não dá para afirmar se são os mesmos. Fico feliz que ainda existam povos remanescentes desses grupos na sua região e que ainda guardem as suas tradições. Grande abraço!

  2. Mel Oliveira

    Amei a lenda do jenipapo, a cultura índigena é realmente mágica e sábia . Estou pesquisando para um trabalho escolar e fiquei super feliz de ter encontrado esse blog , vou visita-lo sempre..

  3. Vanessa

    Olha, a lenda é muito linda! E, concordo com o sábio Caçador que diz que a guerra é sempre desnecessária causando tristeza e injustiça, honestamente, isto é a pior coisa que uma pessoa pode sentir: o sentimento de injustiça.
    Realmente, a união com o respeito e consciência de que o espaço que Olorun construiu é para todos e de todos é, o que há de MELHOR neste ensinamento, porque desloca a reflexão de que o diálogo e a negociação são sempre as melhores escolhas.
    Basta que cada um aprenda a administrar o espaço que tem, não almejando o espaço que o outro conseguiu. Esse é o verdadeiro pulo do gato.

    O diferencial das etnias de matrizes não ocidentais é que elas são capazes de nos ensinar mediante suas narrativas míticas, de que ter e ser valoroso vale muito mais do que ser egóista e arrogante. Somar é sempre melhor do que dividir no final tod@s saem ganhando! Obrigada, Egbame Querido! Sua benção!!!
    Vanessa d’Odé

  4. Danielle

    Jonatas querido, apredendo com voce, mais uma vez… Que lenda maravilhosa. Um grande abraço. Danii

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