A NAÇÃO JEJE (O POVO DE DAN)

Posted by on 29 de janeiro de 2012

A Nação Jêje, em especial a Mahi, é considerada fechada e cercada de muitos mistérios sendo que pouco se costuma publicar a respeito. Essa talvez fosse uma das razões pela qual se costumava dizer que a mesma estivesse praticamente extinta, entretanto de alguns anos para cá ela vem ressurgindo e mostrando a todos a força do “Povo de Dan”. Infelizmente, apesar do crescimento de casas dessa linhagem também é crescente a descaracterização da mesma, já que devido a falta de conhecimento as pessoas não estão seguindo os preceitos impostos pela Nação.

 

Ile Asé Osumare (Bahia) /Nago-vodun

Dentro do culto são seguidos várias proibições (trefú= ewó) da Nação como, por exemplo, nunca pronunciar o nome dos voduns perto do fogo ou lixo, jamais comer ou utilizar a carne do carneiro, até o seu nome deve ser evitado usando-se o termo “lanzudo”.

Na Nação Jeje, observamos não só uma ritualística própria, mas também toda uma terminologia característica, que em alguns casos pode variar de acordo com o Asé ao qual a casa descende. Dentre os principais rituais praticados podemos citar: o Pole, o Tó, o Zandró, o Sanjebe, o Kuhan, o Gboitá, o Zô e o Sarapokan (Sapokan). É costume entre os antigos dizer que alguém só pode ser considerado realmente um vodunci se tiver recebido o Hungbe, ou seja, tenha passado por todos os rituais necessários para uma verdadeira iniciação no culto aos voduns. É interessante observar que muitos desses rituais tiveram que sofrer adaptações, devido à proximidade com o meio urbano. Outros, como o ritual de Gra (ou Grau) apresentam-se em quase extinção.

 

Roça do Ventura: Da esquerda para a direita, ogã Boboso (Ambrósio Bispo Conceição), vodunsi Alda dos Santos Menezes da Silva, ogã Bernardino Pereira dos Santos e a vodunsi Alaide Augusta da Conceição. Foto: MARCO AURÉLIO MARTINS

Alguns cargos empregados são:
*Doté/ Doné – Respectivamente Babalorisá e Iyalorisá. Quando o termo usado for Tochê ou Nochê os respectivos significados são “meu pai” ou “minha mãe”. Também é comum aos filhos responderem ao Doté ou Doné por Dê, que significa senhor, meu Pai. Esses termos são utilizados por filhos dos voduns Kaviuno. Quando o vodun do filho pertencer à família de Dan esse deverá chamar o sacerdote por Mejitó, da mesma forma os filhos de divindades nagô-vodun chamarão seu iniciador por Gayaku.
*Huntó/ Runtó – É o encarregado de chefiar todos os demais tocadores de atabaque. Na verdade o Huntó é um cargo equivalente ao de Ogan, podendo existir outros, como Pejigan, Gaimpe e Abajigan.
* Vodunciponcilê – Cargo semelhante ao de Ekéji.
*Hosegan/ Gonzengan – Semelhante à Vodunciponcilê porém sua principal função é cuidar das quartinhas (gonzen) e eventualmente dos Gra. Em determinadas linhagens dessa nação são realizados orôs especiais com a finalidade de se invocar os Gra, que antecedem o processo de feitura. São considerados uma forma de espírito selvagem, que após ser concluído o processo iniciático não mais retorna.
*Hunso/Runssó – Mulher encarregada da cozinha do barracão.
*Dere– É a mulher encarregada de cuidar da vodunci durante sua iniciação, seria sua mãe pequena.
*Adagan – Escolhida entre as filhas de santo mais antigas da casa, que por sua experiência é encarregada de algumas cerimônias e rituais importantes como cuidar de Legba, é um cargo exclusivo para mulheres exigindo também grande responsabilidade. Cabe ressaltar a importância deste cargo, uma vez que em muitos axés cuidar de Exú é tarefa restrita aos homens.
*Sidagan– É também uma filha de santo antiga, sendo a sua função auxiliar a Dagan. Esses dois cargos são de tamanha importância, pois cabe a Sidagan recitar o ajebé, cantiga secreta que quando entoada pode salvar uma pessoa da morte ou restabelecer a saúde de alguém muito doente.
*Adogan – É o filho de santo (homem) encarregado de cuidar da roça, ou seja da área aonde estão plantadas as árvores sagradas do terreiro.
*Vodunsi – O termo significa esposa do vodun e é equivalente á iyawô.
*Etemi– Vodunci iniciada para nagô-vodun e que já tenha mais de 7 anos de iniciação.
*Hurete/Arruretê – Pessoa que ainda não passou pelo ritual de iniciação, Abian.
Ainda observamos o termo Humbono, que é dado ao primeiro filho de santo iniciado pelo zelador, cabendo a ele o direito de substituí-lo após o seu falecimento, até que seja escolhido o seu sucessor.

 

Oxumare, a cobra arco-íris

Em casas dessa linhagem os voduns costumam ficar em um altar chamado pandôme que se localiza no interior do sabaji, quarto sagrado aonde estão os assentamentos dos voduns, sendo que em algumas vezes é reservado apenas para os voduns do chefe do kwe ou rumpame (casa de culto). Ao contrário do ritual Alaketú não vamos observar a presença do isé ou poste central, no centro do barracão costuma ficar apenas um grande porrão contendo muitas moedas. Dentro da tradição jeje a maioria dos voduns está associado a uma árvore, chamadas Atin, sendo Atinsá seus galhos. Daí vem o costume de se chamar os voduns assentados fora do interior do barracão (no tempo) de Atin, mesmo que no espaço do terreiro não haja árvores.

Bessem/ Akóro Bessem é o vodun chefe de toda nação Jeje, senhor da riqueza e da sabedoria, quem trás harmonia ao mundo. É o próprio arco-íris, a grande idan (cobra) que desce à Terra para beber água e nos traz a fartura através da chuva que fertiliza o chão.

 

Piton Africana (Python Regius)

TEXTO ESCRITO POR  JONATAS GUNFAREMIM

9 Responses to A NAÇÃO JEJE (O POVO DE DAN)

  1. Gaimkpe Wagner

    Está corretíssimo, e uma coisa é verdade, muito difícil se pesquisar sobre o povo djeje mahin, so estando dentro pra saber, sou confirmado na nação, meu barracão e no rio de Janeiro, e amo essa minha nação djeje mahin.

  2. LUAN

    Pra quem quer conhecer uma casa que segue a tradição mahin aqui no Estado de São Paulo… Eu estive a procura e achei tanto que já faço parte da casa … humpame Badé Korodje … fica no Alvarenga em São Bernardo do Campo … a casa é Djedje Mahin e agora após a morte do Pai do meu Sacerdote está aliada à grande mãe a Matriz Ceja Hunde. Quem quiser entre em contato comigo kaiqueluanb@gmail.com

    Grato .. LUAN

  3. Adriana

    Sou da nação nagô-vodum, estou a pouco tempo e gostaria de obter mais informações a respeito.

    • Gunfaremim

      Obrigado por escrever Adriana, a Nação Jeje é rica em fundamentos e está cheia de excelentes sacerdotes. Tenho certeza que através deles você terá as melhores informações que necessita. Seguimos juntos nessa luta.

  4. Alexandre

    Ola Gostaria de saber alguns endereços de casa de jeje aqui em Sp se possivel

    • Gunfaremim

      Alexandre, eu realmente não sei como te responder essa pergunta.. me desculpe.

  5. fabio

    olá irmãos,confirmo o escrito.,verdade maior ñ esistira!meus parabéns ao escritor,me chamo huntolú fabio do vodun lissá kí vovodun mó dú bí

    • Gunfaremim

      Adupe ore mi, nossa cultura é linda vamos continuar propagando. Estamos juntos nessa luta!

  6. Vodunsi Talakeomi

    Parabéns! Estou impressionado com tanto conhecimento sobre o Povo Djeje ou Fons. Sou vodunsi Savaluno, e ainda não tinha encontrado um material tão profundo e verdadeiro. É tudo isso que foi escrito e um pouco mais, mas só entrando para ter o restante do conhecomento, adupé ò!

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