RELATO HISTÓRICO PRIMOROSO. VALE MUITO A PENA LER!
RELIGIÃO – ÁRVORES SAGRADAS RESISTEM À DESTRUIÇÃO
A Tarde , quarta-feira, 31 de janeiro de 1979
Texto de Reynivaldo Brito
Fotos Louriel Barbosa
Arredios ao comportamento místico do povo baiano, engenheiros e arquitetos responsáveis pela abertura de avenidas nos vales de Salvador estão destruindo um patrimônio de grande significado para os descendentes dos africanos, e mesmo para todas àquelas pessoas ligadas ao candomblé. São as árvores sagradas que vieram da África e que representam verdadeiros templos, onde são feitas obrigações da seita. Elas somavam quase duas centenas e, hoje, poucas conseguiram sobreviver.Como afirma o ogã do candomblé do Bogum, Jehová de Carvalho , “assistimos , impotentes e indefesos, a esta profanação. São os babalaôs , yalorixás, obomins, okedes, ogãs e obas que mais sofrem com a dilapidação desses elementos importantes e integrados a nosso culto. Cada árvore sagrada desta tem uma história e muitas chegaram até à Bahia trazidas com muita fé e assim cresceram, e debaixo de suas copas foram feitas e depositadas, no decorrer dos anos, preces e outras formas de manifestação do candomblé.”
Na foto ao lado fita branca amarrada em seu tronco,a árvore do Terreiro de Menininha do Gantois
Somente na Avenida Mário Leal Ferreira, mais conhecida como a Avenida Bonocô em homenagem a um candomblé que funcionava nas imediações, foram derrubadas mais de dez árvores sagradas. Existiam, ali, dez terreiros de candomblés das nações Ketu e Angola, que tiveram que sair devido à presença dos tratores e caçambas na época da construção da referida avenida. Ali viviam muitas árvores de looku, as conhecidas gameleiras nativas que dominavam a paisagem dos morros e vales, hoje transformados em cortes que mais parecem chagas feitas na terra pelas navalhas dos tratores . Dessas restaram, apenas, a do condomblé da yalorixá Emília, na Baixa da Torre, à beira do Bonocô , e a do babalorixá Walter, que cumpria suas obrigações para Oxalufã.
Lebram os mais velhos integrantes do candomblé do Bogum que os antigos gêges , vindo do atual Dahomé, residiam nos baixios, em palhoças afastadas da casa principal do terreiro.Era uma comunidade isolada, que ocupava o atual bairro do Engenho Velho da Federação. Cada orixá tinha sua árvore, mas a de Azanná Odô era a mais alta e ali foram feitas centenas de obrigações.
Em todos os candomblés de Salvador existem árvore sagradas, que representam verdadeiros templos. Quando esteve na África , o professor Estácio de Lima, antropólogo baiano, constatou a relação entre essas árvores existentes na Bahia com as do Continente Negro, onde algumas são utilizadas até como urnas mortuárias em determinadas tribos.