Assim diziam os mais velhos.. “Folha tem horário pra colher”. Tem algumas que só podemos colher até meio dia, depois dessa hora só servem pra Exu e Ogun. Exu é muito próximo de Ossayin ao meu ver. Eles possuem identidades muito semelhantes em alguns aspectos. Até fumar fumam, RS. Talvez o fato de Exu ser um orixá muito próximo de nós, permita que Ele continue recebendo as folhas e as tomando para si próprio, uma vez que Ossayin as impediu de serem utilizadas pelos demais orixás e pra si mesmo.
Ossayin assovia nas matas, Exu nas encruzilhadas. Uma das principais folhas de Ossayin é o tento (werenjeje). Suas sementes são vermelhas e pretas, muitos chamam de olho de Exu ou de Saci.. Saci esse sincretizado há muito tempo com Ossayin, ou seria com Exu? As figuras as vezes se confundem.. Uma vez ouvi de pai Flávio de Oguian que o nome Saci Perere seria uma curruptela de Osayinsy kekere, pequeno filho de Osayin.. Seria o Saci, Aroni, o companheiro de Ossayin? No Jeje, temos a figura de Ague, que está bem mais proximo de Odé que Ossayin, mas é quem guarda o segredo das folhas. Agué adora epo e otim, assim como Exu.
“Ago otim dun ago Agué otim dun/ Ago otim dun ago Agué olepe”
“Ago epo ago Ague epo/ Runbere ko azan, Ago Agué olepe”
Nada se faz sem Exu, nada se faz sem as folhas de Ossayin. A natureza de Exu é o antagonismo. Ele sempre representa o outro lado, outras possibilidades, a inconformidade que gera a mudança. Exu é o Senhor que carrega muitas cabaças, Ossayin traz os ado sempre junto consigo, cheio de ofós e mistérios. Ossayin carrega consigo o mistério de Eleye, Ele reverencia as Grandes Mães, Iya Mogun. Com Elas, Ele fez juramentos, comeram e beberam juntos, em cima das folhas.
Exu também dialoga com Elas, no Ipade, cerimônia presidida por duas mulheres, geralmente as mais velhas do Ilê (agbas): E as Grandes mães são exaltadas: Iya Moro, Iya Dagan, Ajimúdà, Iyábase.. Os filhos de Ossayin são iniciados do lado de fora, os de Exu também.. Exu quis ter a primazia junto a Oxalá, e Ossayin junto a Orunmila. Acho que uma das maiores incompatibilidades entre os dois é o fogo, que pode destruir a mata e acabar com as folhas.
E ína mojubá, Ína ína mojubá aiyê (Ína eu lhe apresento meus humildes respeitos)
E ína koróká, Ína ína koróká aiyê (Ína não venha com pensamentos cruéis para o mundo)
E ína ko wá ba, ína ína ko wá ba aiyê (Ína venha e proteja o mundo)
Mas embora Bara nos traga a individualidade é Ossayin, com suas folhas que permite que tenhamos todas as cores que pudermos ter, pois é a folha que irá ressaltar nossos defeitos e qualidades.
“Òpeèré Òsányìn ìn s’ibú, Kúrú ìde akàkà/ Òpeèré Òsányìn ìn s’ibú Bàbá, Kúrú ìde akàkà”
“Operé de Ossanhe voa profundo, O pequeno não muda a natureza/
Operé de Ossanhe voa profundo, Pai, O pequeno não muda a natureza”
Meu pai Flávio dizia sempre isso. Ninguém muda a folha de ninguém, a folha é que ressalta aquilo que já somos por dentro. Não é a toa, que cantamos no dia da Sasányin : “Órùn a f’Esu Òdàrà kò ba l’ayo/ Órùn a f’Esu, Ase lè be kó ba l’o”. Que Exú leve com alegria tudo aquilo que a Ele oferecemos no dia em que as folhas estão sendo encantadas.
Por isso que eu acho que Exu e Ossayin sempre caminharam juntos. São irmãos e camaradas.
TEXTO ESCRITO POR JONATAS GUNFAREMIM (PLÁGIO É CRIME-CITE A REFERÊNCIA)
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