ÀJÓBI PUPÁ- AROEIRA VERMELHA (Schinus terebinthifolius)

 

Aroeira vermelha

Árvore rústica de médio porte que alcança de 5 a 9 metros, encontrada amplamente nas regiões Norte, Sudeste e Sul do país. É uma planta dióica, ou seja, existem árvores fêmea e árvores macho. Também recebe os nomes populares de aguaraíba, aguará-ybá-guassú (Guarani), corneiba (Tupi), aroeira-branca, aroeira-da-praia, aroeira-do-brejo, aroeira-do-campo, aroeira-do-paraná, aroeira-mansa, aroeira-negra, aroeira-precoce, aroerinha-do-iguapé, bálsamo, cambuí e fruto-do-sabiá.

 

 

É uma espécie bastante resistente a condições ambientais pouco favoráveis para outros vegetais. Essa característica faz com que seja considerada uma espécie pioneira, já que consegue ser uma das primeiras a surgir e se estabelecer em áreas bastante degradadas. Esse fato a aproxima do orixá ao qual pertence, Ogun, Senhor dos Caminhos e detentor do título de Asiwajú, “Aquele que vem na frente”.

A aroeira muitas vezes é tida como uma planta invasora, pois se alastra com certa facilidade. Segundo os antigos quando colhida de tarde, com o Sol já quente é considerada folha de Exú, o Senhor dos Caminhos (Olonon), Aquele que está em todos os lugares, a quem todos devem render as primeiras homenagens. Isso faz com que seja uma folha quente (gun), por isso deve ser utilizada com certa precaução, podendo ser quizila para vários oris. Dizem até que não deve ser levada a cabeça.

 

As flores são melíferas, atraindo diversas abelhas. Seus frutos são pequeninos, em forma de cachos, e servem de alimento para diversas aves, como sanhaços e sabiás. Na França, seus frutos são conhecidos como pimenta-rosa e são bastante apreciados na culinária por seu sabor suave, servindo de base para molhos de carnes brancas, como aves e peixes. Sua utilização pelos franceses vem do século XVII, onde é conhecida até hoje como “poivre rose’. Seus frutos são, frequentemente, confundidos com a pimenta-do-reino. Interessante lembrar que Exú adora pimenta..

 

Costuma ser empregada na fitoterapia para o tratamento de doenças respiratórias, urinárias e afecções cutâneas (da pele). Nesses casos se utiliza principalmente a casca, podendo também se fazer uso das folhas e frutos. Por ser rica em óleos essenciais com atividade anti-microbiana, age no combate de diversos tipos de bactérias e fungos (ação anti-séptica). Segundo alguns estudos, o extrato de suas folhas apresentou ação antiviral para determinados tipos de vírus vegetais e ação citotóxica para diversos tipos de cânceres de pele. Seus principais princípios ativos seriam mono e sesquiterpenos, alcalóides, flavonóides, saponinas, resinas, taninos, esteróides, triterpenos e limoneno.

 

Embora seja utilizada como fitoterápico e tenha uma copa frondosa não é aconselhável se sentar em baixo de sua sombra. Isso porque a planta (seiva e casca) libera pequenas partículas contendo alquil-fenóis. Essas substâncias são extremamente alergênicas e podem causar urticárias, edemas na pele, febre e até dificuldade em enxergar. Mais uma constatação de que se trata de uma folha quente e que deve ser utilizada com cuidado, principalmente em banhos e sacudimentos.

 

É uma das principais árvores do Ilè Igbó (espaço mato do terreiro), onde costuma ser utilizada nas grandes obrigações, especialmente quando ocorre sacrifício de animais de quatro patas, sendo a mesma espalhada pelo chão onde se dará o ritual. Nesse caso o animal será conduzido até o local com algumas folhas de aroeira, que deverão ser comidas pelo mesmo. Ocasião onde são entoados pelo Asógún os seguintes cânticos:

 

“Mo rúbo, mo rúbo sé, morúbo” (Eu ofereço o sacrifício, em troca.)

 

“Eran òrìsà, Ló gbe ‘wé o” (O animal do orixá se utiliza das folhas).


Exu- Exposição Agbara Orixás/ Galeria Cândido Portinari (UERJ) 2012/ Artista: Sidiney Rocha

A segunda cantiga também costuma ser entoada da seguinte forma: “Eran òrìsà, Òrìsà ko be re o”. Conforme a Tradição do Candomblé, o animal não pode ser sacrificado de barriga vazia, sendo sempre oferecido ao mesmo folhas de aroeira, cajazeira (Spondias mombin) ou até goiabeira (Psidium guayava).

 

 

 

 

 

 

A aroeira é uma folha por excelência do ritual de sacrifício animal, estando por isso novamente ligada a Ogun, orixá que carrega o título de Bàbà Irin (Senhor dos Metais) e a Exú Olòbe (Senhor da Faca). Também pode ser espalhada no chão do barracão nas festas em louvor a Ogun e Exú, para afastar qualquer energia negativa que possa interferir na ocasião.

Oxóssi, irmão de Exú e Ogun. Rei de Ketu.

Ogun- Artista Sidiney Rocha/ Agbara Orixás (UERJ) 2012

TEXTO ESCRITO POR JONATAS GUNFAREMIM

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ASSIM ERA ANTIGAMENTE..

Orisá ajebè oní o

Ae ae ae

Ajebè lésè òrìsà

 

Ògún ajebè oní o

Ae ae ae

Ajebè lésè òrìsà

 

Òsóòsì ajebè oní o

Ae ae ae

Ajebè lésè òrìsà

 

Òsànyìn ajebè oní o

Ae ae ae

Ajebè lésè òrìsà

(Suplicamos e pedimos a orixá, Suplicamos aos pés do orixá)

 

Ilè Iyá Nàsó (Casa Branca do Engenho Velho) Bahia

Jonatas Gunfaremim

 

 

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MUDAS DE PLANTAS SAGRADAS

Os leitores do meu blog sempre solicitam contatos de onde obter mudas de algumas árvores cultuadas na casa de Candomblé, como o akoko e o dendezeiro. Posto aqui o contato do amigo Reginaldo Fernandes de Melo.

Tenho certeza que suas mudas são cultivadas com todo o respeito e carinho que a nossa religião nos ensina. Afinal, como reza a lenda, as árvores são moradias de orixás e de diversos espíritos..  Podem se deliciar com as fotos, todas tiradas no sítio de Ibitinga (SP).

 

 

“Caro visitante! essas fotos de plantas e mudas foram feitas em minha chácara e muitas estão rolando na net ,no face,em blogs….muitas vezes são usadas por pessoas que vendem mudas dessas plantas consideradas sagradas dentro das religiões afro-brasileiras, não me importo que copiem as fotos mas pense bem! porque essas pessoas que comercializam mudas não utilizam suas próprias fotos? Cuidados meus amigos! quem produz mudas não precisa copiar fotos dos outros rsrsrs Caso queiram conhecer a chácara será um prazer receber a todos.”

Reginaldo Fernandes de Melo


CONTATOS (REGINALDO FERNANDES):

(16)999928274 (Vivo)

(16)982206984 (Tim)

(16)33423809 (Residência- somente a noite)

 

Opaoka Africano (Khaya grandifoliola))

 

Alpinia zerumbet- Tótó (colônia)

Adansonia Digitata (baobá , Igi Osé)

Newbouldia laevis- Akòko/ Ahoho/ hunmatin

Mudas de Akoko

Piper aduncum- Iyèyè (Aperta ruão)

Aframomum melegueta- Ataare (pimenta-da-costa)

Pothomorphe umbellata- Ewé Iyá (caapeba)

Leonurus sibiricus- Erva macaé

Mudas de dendê (Elais guinenses)- Igi opé

Mudas de erva macaé

Dracaena surculosa- Etó (dracena bambu)

Abrus precatorus- Ewérejèje- (Tento miudo, olho-de-saci)

Garcinia kola- Orogbo (orobô)

Guarea guidonia- Ìpèsán (Bilreiro)

Guarea guidonia- Ìpèsán (Bilreiro)

 

Polyscias scutellaria- Àbèbè kó (ipeté de oxum, falso abebê)

Milicia excelsa- Iroko (Iroko Africano)

Milicia excelsa- Iroko (Iroko Africano)

Siparuna Guianensis- Nega mina

Fruto do obi

Mudas de obi e orobô

Periploca nigrescens -ewé ogbó (obó, orelha-de-macaco)

Ogbó subindo..

Entada gigas- Olibé (Fava de Xangô)

Obi e orogbó / Orógbó ní obì bàbá mi Sàngó (o orobo é o obi de meu pai Xangô).

Dracaena fragans- Pèrègún (peregun, dracena, nativo)

Nosso grande agricultor Reginaldo Fernandes de Melo

Xanthosoma atrovirens- Patiòba (Tambá tajá, taja buceta)

Aerva lanata- Ewé ajé (folha da riqueza)

Alternanthera tenella cola -ewé ajé (Folha da riqueza, periquito)

Tetrapleura tetraptera - Àrìdan (Fava de aridan)

Hedychium flavum- Balabá (Lírio do brejo)

Centratherum punctatum - Amúnimúyè (Balainho de velho)

Centratherum punctatum - Amúnimúyè (Balainho de velho)

 

Aristolochia gigantea- Jokonijé (cipó-mil-homens, papo-de-peru, jarrinha))

Spondias lutea- Igí Ìyeyè, Okinkán, Oriká (Cajá-mirim)

Spondias lutea- Igí Ìyeyè, Okinkán, Oriká (Cajá-mirim)

 

Peperomia pellucida -Rinrin (Oriri da Oxum)

Cestrum laevigatum- Ikèrègbè (Coerana)

 

Fava de Xangô

Pimenta-da-costa (Ata kò ro ju ewé o. A lele kò ro ju ígbó-ògùn)

Ipomoea hederifolia – Ewé kawókawó (Jitirina vermelha)

 

Mimosa hostilis - Jurema preta

Siparuna arianae- Nega mina

 

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Iyá Mi Eleye e as árvores de poder

 

Igí Ìyeyé/ Okinkán- Cajá mirim (Spondias mombin)

Um dia as Iá Mi vieram para a Terra e foram morar nas árvores. As Iá Mi fizeram sua primeira residência na árvore do orobô. Se Iá Mi está na árvore do orobô e pensa em alguém, este alguém terá felicidade, será justo e viverá muito na terra.

 

As Iá Mi Oxorongá fizeram sua morada na copa da árvore chamada araticuna-da-areia. Se Iá Mi esta na copa da araticuna-da-areia e pensa em alguém, tudo aquilo de que essa pessoa gosta será destruído.

 

 

 

Opaoká

As Iá Mi fizeram sua terceira casa nos galhos do baobá. Se Iá Mi está no baobá e pensa em alguém tudo o que é do agrado dessa pessoa lhe será conferido.

 

As Iá Mi fizeram sua quarta parada no pé de Iroco, a gameleira-branca. Se Iá Mi esta no pé de Iroco e pensa em alguém, essa pessoa sofrerá acidentes e não terá como escapar.

 

As Iá Mi fizeram uma quinta residência nos galhos do pé do Apaocá. Se Iá Mi esta nos galhos do Apaocá e pensa em alguém, rapidamente essa pessoa será morta.

 

As Iá Mi fizeran sua sexta residência na cajazeira. Se Iá Mi está na cajazeiraa e pensa em alguém, tudo o que ela quiser poderá fazer, pode trazer a felicidade ou a infelicidade.

 

As Iá Mi fizeram sua sétima morada na figueira. Se Iá Mi está na figueira e alguém lhe suplica o perdão essa pessoa será perdoada pela Iá Mi.

 

Iroko

Mas todas as coisas que as Iá Mi quiserem fazer, se elas estiveram na copa da cajazeira elas o farão, porque na cajazeira é onde as Iá Mi conseguem seu poder.
Lá é sua principal casa, onde adquirem seu grande poder.
Podem mesmo ir rapidamente ao além, se quiserem, quando estão nos galhos da cajazeira. Porque é dessa árvore que vem o poder de Iá Mi e não é qualquer pessoa que pode manter-se em cima da cajazeira.

Igi Osè / Akapassatin (fon)- Baobá (Adansonia digitata)

 

TEXTO EXTRAÍDO DE: PRANDI, Reginaldo; Mitologia dos Orixás  -Editora Companhia das Letras

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ÀRÌDAN- FAVA DE ARIDAN (TETRAPLEURA TETRAPTERA)

Árvore africana cujos frutos em forma de fava são empregados amplamente nas casas de Candomblé.  Acredita-se que essa fava tenha a capacidade de afastar malefícios e feitiços. Por isso, ela costuma ser encontrada junto aos assentamentos de alguns orixás, assim como, ela entra no preparo de diversos pós de atin, soprados pela Iyalorisá e pela Iyá Moro após a cerimônia do Ipade. Verger cita a mesma como importante na defesa de feitiços lançados por Iyá Mi (feiticeiras).

Tetrapleura tetraptera

Fava de aridan

Aridan

Família botânica: Leguminosae-Mimosoideae

 

TEXTO ESCRITO POR GUNFAREMIM

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Ewé Apìkán- Datura metel (Trombeteira Roxa)

Planta arbustiva, que não ultrapassa um metro e meio de altura, originária dos continentes africano e asiático. É extremamente tóxica e possui a utilização restrita dentro do culto aos orixás nas casas de Candomblé. Segundo alguns, deve-se ter muito cuidado ao coletá-la, sendo uma tarefa restrita para poucos iniciados. É por diversas vezes citada por Verger em trabalhos para prejudicar alguém. Como diversas plantas venenosas, está ligada a Esú e Ossaiyn.

 

TEXTO ESCRITO POR GUNFAREMIM

Datura metel (variedade branca)

Datura metel

Datura metel

Trombeteira roxa

Fruto contendo sementes de Datura metel

Trombeteira roxa, zabumba roxa, saia roxa

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OGUN, OKÔ E A DESCOBERTA DA AGRICULTURA

 

A terra mexida e plantada dá frutos

Era uma vez, quando o mundo foi criado, levou muito tempo que não existia nada plantado, pelo homem. Aqui morava um homem chamdo OKÔ. Este nome ele recebeu de Olorum.

Um dia Olorum chamou este velho caçador e disse: – Olhe, eu criei o mundo, porém faltam as plantações e eu quero que você assuma esta tarefa. Plantar é uma função muito especial para a construção do mundo. Eu preciso terminar um trabalho que comecei. Portanto, preciso da sua ajuda. Esta tarefa de plantar é sua. E tem mais, eu quero um mundo bem bonito com muitas plantas verdinhas no chão. Quero árvores fortes com boas sombras, quero muitas flores e frutos saborosos, e não esqueça de tudo que possa servir para remédio.

Okô ficou sentado no chão pensando: Que grande trabalho Olorum me deu. O que é que eu vou fazer?

Pensou, pensou e depois de muito pensar lembrou de que um dia nas suas andanças, tinha encontrado uma palmeira, um Igi Opê. Uma única palmeira que era a morada do menino do corpo reluzente. Este menino estava sempre com um pedaço de pau mexendo a terra. Okô lembrou de que naquele dia, ele teve uma conversa com esse rapazinho:

-Menino, o que você está fazendo aí o tempo todo mexendo na terra?

-Então você não sabe que a terra mexida e plantada dá frutos?

-Plantada como? Perguntou Okô.

-É, a gente arruma semente e tudo..

-Como arruma semente se ainda não existem árvores? Não existe nenhuma planta a não ser esta palmeira!

O menino lhe respondeu: -Olhe, para Olorum nada é difícil.

Okô ficou admirado com a sabedoria do menino e foi embora. Quase esqueceu aquele encontro.

Quando Olorum lhe deu esta empreitada, ele pensou logo no menino do corpo reluzente. Voltou ao mesmo lugar e lá estava ele, sentado embaixo da palmeira, cavando a terra.

O buraco estava bem maior. E daquele buraco já estava saindo uma terra vermelha. Então Okô perguntou ao menino: -Por que esta terra está saindo mais vermelha?

-È sinal de que existe algo diferente nas profundezas da terra.. Veja onde eu estou cavando agora, observe que a terra é mais seca.. agora, esta outra parte é mais molhada.. E agora o que está saindo.. é uma parte bem mais dura..

-Continue a cavar, menino. Vamos cavando. Cavando sempre sem parar.

Enquanto o menino estava cavando, a madeirinha que estava usando quebrou. Ele aí pelejou, pelejou, esfregou a parte que sobrou no chão e fez uma ponta. Naquele momento estava nascendo o primeiro instrumento agrícola. Com este instrumento os dois começaram a cavar alternadamente. Um cavava, depois o outro cavava.. Agora tiravam lascas bem duras do meio da terra. Era o surgimento das lascas de pedra. Parecia que agora tudo podia ficar mais fácil.

 

Igí Ope- Árvore dedicada a Osalá e de onde se extrai o Mariwo, roupa de Ogun

Okô resolveu sair um pouco e foi dizendo:

Vamos ver se fazemos algo melhor para cavar a terra. Vamos ver o que conseguimos fazer com estas lascas de pedra.

O menino do corpo reluzente continuou o trabalho e Okô lhe disse:

Eu vou embora, veja se você sozinho consegue algo mais eficiente pra gente trabalhar.

Okô foi embora. E pelo caminho ia refletindo em tudo que se passara. No outro dia quando voltou, o menino estava com um fogo acesso e com vários pedaços de pedra dentro do fogo.

Quando o menino fez o fogo, fez também um canal de dentro do fogo. No que as pedras iam derretendo iam formando novas lâminas. Assim foi criado o ferro. Daí em diante, Okô teve sempre grandes ideias sobre plantações, sobre a colheita e a lavoura.

E o menino do corpo reluzente? Quem seria o menino do corpo reluzente? Quem seria o menino misterioso e inventor de ferramentas?

O menino só podia ser Ogum. Ogum foi crescendo, aperfeiçoando e criando novas ferramentas para ajudar a cuidar bem da terra. Assim aparecem a enxada, o arado, a foice e tudo quanto é de ferramenta. Os dois juntos continuam trabalhando nas plantações que têm grande importância para a vida do ser humano na terra.

 

Conto retirado do livro: Ilê Ifé- O sonho do Iaô Afonjá (Mitos Afro-brasileiros)- Carlos Petrovich & Vanda Machado), Salvador/Bahia 2000, EDUFBA.

Carlos Petrovich- Iniciado, Oga de Ogum, Professor Universitário Adjunto da UFBA-Ator, Diretor, autor de Teatro- Escola de Teatro- UFBA. Arte-Educador.

Vanda Machado- Iniciada, filha de Oxum, Professora Primária, Graduada em História, Curso de Iniciação em Cultura Africana, CEAO/UFBA, Mestrado Fac. Ed. UFBA- Autora de Ilê Axé- Vivencia e invenção pedagógica- As crianças do Afonjá- UFBA/SMEC-PMS- 1999 e Prosa de Nagô, Carlos Petrovich, EDUFBA, 2000.

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O ESPÍRITO DA TERRA

“Minha alma transpira o verde, meu espírito pertence à terra. Cada árvore guarda a memória de infinitos ancestrais, que penetraram por suas raízes e se fazem presentes através de suas folhas, seus frutos, suas sementes… Preservando o verde eu mantenho viva a minha memória ancestral, minha descendência Divina…”

ESCRITO POR JONATAS GUNFAREMIM

 

Babá Iroko e eu.. uma história antiga..

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A ÁRVORE DE IROCO

Erinlé, o caçador e outros contos africanos. Autor: Adilson Martins.

Nas florestas existe uma árvore gigantesca conhecida pelo nome de Iroco.

 

Os nativos evitam de todas as formas chegar perto dessa árvore porque, segundo acreditam, nela mora o espírito de um homem muito velho que anda ao seu redor durante a noite, carregando nas mãos uma tocha acesa para assustar os viajantes.

A lenda conta que qualquer pessoa que olhar o rosto de Loko, o espírito do velho, enlouquece rapidamente.

Por ser uma árvore imensa, de galhos enormes, o iroco atrai lenhadores, que se sentem tentados a derrubá-lo para que obtenham boa madeira.

Isso é considerado garantia de má sorte, pois o lenhador que ousar cortar o iroco será perseguido, assim como toda a sua família, pelo espírito que habita a árvore.

Dizem os mais velhos que, em qualquer casa onde existam móveis ou objetos feitos com a madeira do iroco, ouvem-se, durante a noite, gemidos e ruídos estranhos, feitos pelo espírito que, preso à madeira, reclama por não poder vagar pela floresta carregando a sua tocha.

 

Iroco é o nome de uma árvore que existe em muitos países da África, desde a Costa do Marfim até Moçambique. O iroco pode chegar a 50 metros de altura e à largura de uma casa. A árvore tem uma vida muito longa: em uma cidade da Nigéria, existe um iroco que nasceu em torno de 1150. Um grande morcego africano (o morcego-palha ou raposa-voadora) come os frutos do iroco. Para os iorubás, o iroco é uma árvore sagrada: suas raízes mergulham no fundo da terra, sua copa atinge o céu e ela vive eternamente. Por isso, é o eixo do mundo e morada dos deuses.

Texto extraído do livro: Erinlé, o caçador e outros contos africanos. Adilson Martins. Pag. 10-12. 1º edição- Rio de Janeiro, Editora Pallas, 2010.


 

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Três grandes guerreiros chegam a Salvador..

Um dia, era uma vez um guerreiro africano.. E ele chegou na aldeia dele e não viu as pessoas. Então ele perguntou onde é que estavam as pessoas. Onde é que está o meu povo? Ele era o rei daquela cidade. E alguém disse para ele:

-Levaram.. São escravos hoje..

Então, ele muito nervoso vai para a floresta, arranca uma imensa árvore, um grande Iroko, joga no mar e trepa no Iroko. E vem nadando mar afora.

No meio das águas, ele encontra uma mulher linda. E ele conta a história de que estava buscando o povo dele. E ela disse:

-Eu vou com você! Eu também quero lutar junto com você!

E chamava-se Iyemonjá Ogunté. E os dois vieram conversando sobre as estratégias. E quando chegaram em Salvador eram três.. Que tinha nascido Ogunjá. Quer dizer, três guerreiros que vieram para Salvador para libertar o seu povo.

 

 

“Mas a memória é isso.. é contar pro outro as histórias, os cânticos, os lugares sagrados, as ervas, as orações. E as pessoas fazem isso coletivamente. É essa maneira de não esquecer as suas origens, de não esquecer os seus ancestrais, de continuar sendo africano no Brasil..”

JOSÉ FLÁVIO PESSOA DE BARROS

 

 

Iroko, árvore-orixá ou orixá-árvore.. Cachoeiras de Macacú

O video apresenta um trecho da palestra do Prof. Dr. José Flavio Pessoa de Barros do IFCH – Programa de Estudos da Religião/UERJ, que abordou o tema “O Imaginário e o Quotidiano das Religiões Afro Brasileiras”.
Disponível também no site: http://www.cultne.com.br/video.php?id_video=1063

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TÈTÈRÈGÚN- Costus spicatus (Cana do brejo, cana-de-macaco, cana-do-mato, sanguelavô, ubacaia)

 

Costus spiralis

Olóòkun é uma divindade importante da mitologia iorubana, considerada masculina no Benin e feminina em Ifé . Ele está presente em vários mitos da Criação, ocupando lugar de destaque junto a Orunmilá e Oduduwa. Olóòkun conhece o segredo da vida (e da morte), foi em suas águas que ela teria surgido e depois se espalhado pela terra firme. Isso o torna um dos orixás mais respeitados e temidos, sua natureza é imprevisível e sua fúria jamais deve ser atraída. Segundo algumas lendas, seria pai de diversas divindades ligadas as águas, como Iyemojá (ninfa do Rio Ògún), Òsun e Òsà, ninfa das lagoas.

 

 

Um itan nos conta que em uma época muito longínqua havia uma jovem de nome Tètèrègún. A bela donzela havia se recusado a realizar oferendas a Olóòkun e por isso sofria com a seca, suas terras haviam ficado estéreis, a vida se recusava a brotar. Olóòkun proibira suas filhas de se aproximarem das terras de Tètèrègún. Foi quando a jovem resolveu consultar Ifá, o adivinho, que lhe orientou a prestar serviços a Olóòkun por alguns dias. Todos os dias a jovem saia pela manhã bem cedo e recolhia água do rio. Quando retornava para a morada de Olóòkun, quase noite, despejava toda água aos pés de Olóòkun enquanto cantava alegremente:

E Tètèrègún e Tètèrègún

Ojo gb’oomi wá ó Tètèrègún

Ojo gb’o omi wa e jô ó Tètèrègún

 

A chuva traz a água que molha teteregun

Chuva traz água, por favor, para molhar o teteregun

 

 

Jardim Botânico do Rio de Janeiro

Com o tempo a mágoa de Olóòkun por não ter sido reverenciado pela jovem foi deixando o seu coração. Até que em um dia o Grande Senhor resolveu presentear Tètèrègún, transformando seu corpo em uma planta. Seus braços esguios viraram folhas. Olóòkun lhe disse que, assim como ela conseguira apaziguar sua cólera trazendo-lhe água fresca, que a partir daquele dia suas folhas seriam utilizadas para aspergir água nos seres, restituindo a calma e refrescando o espírito de todos. Tètèrègún pôde voltar para casa, sua terra voltou a ser fértil, a terra foi apazigada e a vida retornou. Agora ela cantava:

 

Tètèrègún òjò do ( m’pa )

Tètèrègún òjò wo bí wá

 

Teteregun é como a chuva que mata

Teteregun é como a chuva que dá a vida

 

 

Cana do brejo

Tètèrègún, como é chamada nas casas Ketu, está ligada aos orixás funfun, ou seja, orixás da Criação, em especial Obatalá. Em alguns grupos Bantu é conhecida como muenge munjôlo, utilizada como uma insaba (ewé) de Lemba. É interessante observarmos a paridade vida-morte, frio-quente, eró-gún, frio-quente presentes nessa folha. Ela é tida por muitos como uma folha que excita (gún), entretanto seu mito nos revela como foi utilizada para apaziguar Olóòkun, revelando assim seu outro aspecto (eró).

 

Costus speciosus variegata

Costus speciosus variegata- Jardim Botânico do Rio de Janeiro

É costume em algumas casas utilizar suas folhas com água ou omí eró para aspergir sobre os filhos de santo, de forma a atrair coisas boas e até mesmo como forma de restituir o equilíbrio e a paz. Mais uma alusão ao mito supracitado..

 

 

 

 

TEXTO ESCRITO POR JONATAS GUNFAREMIM

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PÈRÈGÚN, A DONZELA ARROGANTE

 

Dracaena fragans- Peregun verdadeiro

Pèrègún era uma bela donzela e filha única de um jovem casal. Com o passar do tempo a donzela cresceu, sendo dotado de uma beleza que atraia a atenção de todos. Era costume da aldeia que os pais procurassem um noivo para suas filhas quando as mesmas atingissem determinada idade. Entretanto a jovem recusava a todos, pois se achava bela demais para casar com qualquer um. Sempre inventava uma desculpa ou defeito para o pretendente.

Diante das sucessivas recusas de sua filha a mãe de Pèrègún lhe dizia: “Osàn tó rí gbajúmò ti kò wò, eiye igbó lásán ló maa fi mu! (Qualquer laranja madura que não cai em bom momento para servir de comida aos homens acabará sendo devorada pelos pássaros selvagens). A jovem ouvia o conselho da mãe, irritada, e dizia que só se casaria com um homem que considerasse muito especial. Com o tempo todos da aldeia já conheciam a fama da jovem Pèrègún, a donzela prepotente e arrogante. A notícia se espalhou por outras aldeias e cada vez mais pretendentes se aventuravam para conquistar o coração da bela Pèrègún.

 

Certo dia apareceu na aldeia um jovem de uma beleza sem igual, com o porte de um príncipe, montado em um garboso cavalo branco. Assim que Pèrègún avistou o desconhecido se apaixonou por sua figura imponente. O jovem informou que vinha de um reino distante e que havia chegado àquela aldeia para se candidatar a mão de Pèrègún. A jovem estava encantada e aceitou o pedido de casamento na hora, sem nem ouvir a opinião de seus pais.

Segundo os costumes iorubanos não se contratava casamento antes de se conhecer a linhagem do pretendente, suas raízes, quem eram seus pais. Por isso os pais de Pèrègún insistiram para que ela desistisse da ideia de se casar com aquele desconhecido. De nada adiantou, a jovem ainda disse: Que se dane a Tradição! Tradição idiota!

 

 

Pèrègún kò/ Dracaena fragans var. Massangeana

Como nenhum argumentou funcionou o casamento foi marcado, porém sem as etapas e cerimônias costumeiras de idana, ou seja, sem trocas de presentes e pagamento de dote por parte dos familiares do noivo à família da noiva. Após todas as festividades o noivo pediu a permissão dos pais para levar sua noiva para o seu reino, que com muito choro e tristeza lhe foi entregue. Toda a família seguiu em caravana, acompanhando a jovem até os portões de saída da aldeia, momento em que Pérègún e sua mãe começaram a trocar o tradicional èkún ìyàwo (cantigas de lamentação que a tradição iorubá obriga cada noiva a recitar, recitando na noite do seu casamento, no momento doloroso da despedida de seus familiares. Essas cantigas representam um diálogo entre a noiva e sua mãe no momento de despedida). A jovem entretanto sequer se lamentou pela separação simbólica de sua família, pelo contrário, respondia de forma arrogante, dizendo que não queria ser importunada por seus pais durante seu casamento.

 

O diálogo entre mãe e filha seguiu até o terceiro portão que demarcava o final da aldeia. A partir daquele ponto Pèrègún e seu marido seguiriam sozinhos. Os dois cavalgaram pela estrada até ao se afastarem o suficiente da aldeia, seu marido começou a seguir para a floresta. Após caminharem na floresta por toda a noite os dois chegaram a uma clareira nomeio da floresta, onde seu marido desceu do cavalo. A jovem se alegrou, pensando se tratar de uma pausa para descansar da viagem.

Para a surpresa da jovem, seu marido começou a despir seus trajes finos. Depois disso ele arrancou um de seus braços, jogando-o longe e agradecendo aos gritos: Obrigado por ter me emprestado o braço, estou devolvendo! Da mesma forma o belo rapaz foi se livrando de seu outro braço, pernas, tronco e pescoço. Sempre lançando para a floresta e agradecendo. Pèrègún observou a tudo, petrificada. A única parte que sobrou foi a cabeça, que parecia muito maior que de costume.

 

 

Pèrègún de Oxumaré

A jovem donzela quis fugir, diante daquele espetáculo macabro, mas foi subjugada por seu marido, ou melhor, o que sobrara dele. Aos berros ele dizia: – Você não disse aos quatro cantos do mundo que só se casaria com um príncipe, pois bem peguei emprestado com meus amigos espíritos das florestas as partes de um corpo e me transformei no seu tão sonhado príncipe. Olhe bem para mim, eu sou um iwín, um espírito da floresta! De agora em diante você será minha esposa e minha escrava, terás que fazer tudo que eu lhe ordenar. Nunca mais verás seus pais ou familiares!

 

De nada adiantou o choro e as lágrimas de Pèrègún, daquele dia em diante todos que se aventuravam a caminhar pela floresta nas altas horas da noite poderiam cruzar com um iwín sem corpo que arrastava consigo uma bela donzela, que chorava o tempo todo.

TEXTO ADAPTADO DO LIVRO: PÈRÈGÚN E OUTRAS FABULAÇÕES DA MINHA TERRA( CONTOS CANTADOS IORUBÁ-AFRICANOS)- AUTOR: FÉLIX AYOH’ OMIDIRE- EDITORA: EDUFBA, SALVADOR, 190 p., 2006.

Entendendo melhor a lenda de Pérègún:

Dracaena arborea- Árvore dedicada a Ógún

1-No folclore iorubano, os espíritos da floresta se classificam em dois grupos: os iwin e os òrò igi. Enquanto os primeiros seriam espíritos malignos, com formas assustadoras, que fazem mal a pessoas imprudentes que se aventuram nas florestas, o segundo grupo é constituído por espíritos que moram dentro das igi (árvores), ou seja, representam a alma viva das próprias árvores e protegem as mesmas de abusos humanos, podendo tomar formas humanas para poderem se deslocar, quando necessário.

2-Nas casas de Candomblé é muito difundida a lenda (itan) em que Osalá cria as árvores e junto de cada uma também cria um iwín, espírito que irá habitar o seu interior. Daí, ser costume a palavra iwín anteceder o orunkó da maioria dos iniciados para esse orixá.

3-Também é costume o plantio de mudas de pèrègun em volta das árvores sagradas existentes na roça de Candomblé, uma clara associação com a lenda de Pèrègún. Ou seja, Pèrègún deve continuar acompanhando seu esposo, Iwín.

4-A lenda de Pèrègún nos remete a necessidade de se manter as tradições vivas, e também aos riscos que corremos quando deixamos de cumprir os preceitos que nos são impostos, principalmente em decorrência de nossa vaidade.

TEXTO ESCRITO POR  JONATAS GUNFAREMIM

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SEMIN-SEMIN- Scoparia dulcis (Vassourinha-de- Oxum, Vassourinha, tapixaba)

Semí, semí

Bí o ta lade, Bí o ta lade,

Irúmalé, Iyá omí ta lade,

Oto ru éfan kobája obinrin,

Iyá omí ta lade..

Ìyámi taláadé= Minha Mãe, Dona da Coroa

Òdòfin dòdòbálè k’obinrin= Odofin, Senhor do Alá, prostra-se no chão diante da mulher (Osun)

 

Scoparia dulcis - Folha de Oxum e Iyemonjá. Costuma ser colocada em um copo de água na mesa de jogo, para aumentar a intuição

Vassourinha, tapixaba, vassourinha-doce, vassourinha benta

Planta utilizada para limpeza espiritual, por benzedeiras e rezadeiras e para aumentar a vidência

Jardim Botânico do Rio de Janeiro

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EFÍNRÍN- Ocimun basilicum (alfavaca, manjericão-de-folha-larga)

 

Folha de Iyemonjá e Osun

Folha utilizada em banhos para atrair coisas boas

Jardim Botânico do Rio de Janeiro

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ATA DUDU- Pimenta do Reino/ Piper nigrum (Piperaceae)

 

Pimenta do reino

 

Folha do orixá Exú

 

Jardim Botânico do Rio de Janeiro

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